Notas de ABV: As Novas Tendências da Música Angolana

A música angolana está no bom caminho no domínio da produção, em concreto o som. O que os jovens artistas têm conseguido alcançar, nos últimas 10 anos, infalivelmente os coloca num pedestal muito mais distantes do que foi o auge das produções na década de 70, tempos áureos de David Zé, Urbano de Castro e Artur Nunes, e, no domínio das orquestras as referências vão para os Merengues, Jovens do Prenda e Kiezos.

Sobre esse quesito o que constato estar parado é não existir nas escolas oficiais as alternativas que permitissem aos alunos um apredizado científico sobre as diversos técnicas de violão e tantos outros instrumentos essencias para termos uma música mais cheia. Não sei bem o que está a acontecer no Uganda, Quénia e Tanzânia onde a produção, nos últimos dez anos, tem atingido um grande nivel de “pureza” [estereofonia] muito impressionante. Não me refiro ao que é feito na Nigéria e Gana, capitais do Afro.

Nas entrevistas que a FMAFRO tem passado, infelizmente é muito alto o número de artistas que exaltam e só a capacidade intuitiva dos potenciais instrumentistas e também artistas.

Sobre o cunho estritamente criativo das canções, letra e sequência de acordes que resultam das suas inspirações, destaco uma certa visão empobrecida do que deve ser cada verso da letra, sua plástica, músicas que mesmo resultando da militância de rua não devem ficar presas ao sofrível. Precisamos trabalhar esses elementos importantes, esmerar as técnicas à volta da música. Não peço aos cantores e cantoras que sejam os melhores poetas do país, mas que retoquem os seus elementos alegóricos. Os cantores deveriam convidar mais vezes os letristas para que assinem letras que tenham uma boa simbiose emocional. Que essa poeticidade crie a cadência das músicas saídas na solidão dos violões, ricas em palavras mais próximas do belo. O belo é sempre um grande campo de subjectividades, até mesmo de discórdias. O que pode ser belo para mim, acreditem, certamente não será para todos diante da mesma obra.

Uns artitas seguem tendências baseadas no uso de palavras obscenas e essas obras ficam pouco amigas de uma escuta familiar ou pública, principalmente lá onde as sociedades ainda são sensíveis por questões educacionais ou por conta da religiosidades que distorcem as matrizes sociais que marcam as grandes urbes.

Muitas editoras editam duas versões das músicas que têm qualidade, mas que pecam por uso excessivo de palavras feias. As segundas edições são designadas de edições “Amigas” das famílias. Nessas situações os produtores, como se tivessem pinças, tiram as palavras p, filho da p e tantas outras, assim como retocam as frases explícitas de sexo.

Muitos grupos da tendência do Drill estão nessa vanguarda negativista, mas as suas músicas são muito intensas, arrastam multidões de jovens de todos os quadrantes sociais, tendências que fazem gerar milhões de dólares. Os jovens do Drill que se têm destacado nessa onda só precisam “estar na estrada”, terem agendado 8 espetáculos por ano e pelas enchentes dos estádios e campos de futebol arrecadam muito dinheiro.

ABV

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